quinta-feira, 17 de março de 2011

Belo Monte e o Oriente Médio


No artigo intitulado “O poder da Internet”, publicado em O Liberal de 16/02/2011, lembro das mudanças que ocorreram no mundo a partir da eleição do Papa João Paulo II e da ascensão de Mikhail Gorbachev ao comando da antiga União Soviética, que, aliás, culminaram com o fim da própria União Soviética, e, consequentemente, com o fim da guerra fria e do risco de uma guerra nuclear entre os EUA e a URSS. Adiante, no mesmo artigo, lembro que a geração que vivenciou o desenrolar desses acontecimentos, no século passado, jamais poderia imaginar que o povo árabe, ainda, no início da segunda década do século XXI, iria reagir contra os seus próprios governantes e tirá-los do poder, como ocorreu na Tunísia e no Egito, apenas com manifestações populares e nas quais havia a participação, inclusive, de mulheres, sem nenhum líder e cuja mobilização era feita somente por celulares e a internet.
É certo que as grandes democracias do planeta, festejaram esse grito de liberdade e de democracia do povo árabe. Contudo, não podem perder de vista a questão econômica, até porque todas são capitalistas. Daí o porquê de os EUA e a União Européia terem pressionado o ditador do Egito a deixar o poder, o mais depressa possível, exatamente para não perderem o controle do Canal de Suez, que é por onde passam os petroleiros que vão à Europa e EUA. Já no caso da Líbia, a meu ver, a demora do Ocidente e da ONU em criar uma zona de exclusão aérea para proteger o povo líbio, significa, na prática, dar tempo ao ditador Kadafi de controlar a situação em seu país, até porque a Líbia tem uma produção de apenas 1.700.000 barris de petróleo por dia; enquanto a Arábia Saudita é o maior ex portador mundial de petróleo, com uma produção diária de 11 milhões de barris. Daí a preocupação com a proliferação das manifestações populares que possam, de alguma forma, desestabilizar a monarquia saudita.
Por outro lado, o ressurgimento da Rússia pós-soviética como um país importante do G-8, mesmo não sendo muito rica e nem muito democrática, mostra a sua importância no mundo atual, até porque é o segundo maior produtor mundial de petróleo, com uma produção diária de 9,5 milhões de barris, podendo aumentar para 14,5 milhões a partir da exploração do “Mar Cáspio”, cujo potencial é de 5 milhões de barris/dia. Contudo, o uso político desse potencial energético tem gerado muita insegurança no mercado, uma vez que Moscou não hesita em cortar o fornecimento de gás e petróleo para qualquer nação que contrarie seus interesses, como foi o caso do fechamento do oleoduto da Bielorússia e do gás para Ucrânia.
Como se vê, o que efetivamente preocupa o Ocidente é o petróleo, cujo barril ultrapassou os 100 dólares na semana passada. E se a crise continuar e mexer na Arábia Saudita é provável que o barril chegue a 150 dólares. E neste patamar, conforme os analistas, haverá uma crise econômica global com inflação em todas as economias, inclusive no Brasil que importa o petróleo leve, de onde se produz a gasolina e o óleo diesel com mais rentabilidade.
É certo que o Brasil é autosuficiente na produção de petróleo. E isto foi amplamente difundido no governo Lula. Mas o que nunca foi dito à população, é que o petróleo que o Brasil produz em grande quantidade é o chamado petróleo pesado, excelente à produção de asfalto e pouco utilizado à produção de gasolina e óleo diesel. Daí a troca pelo chamado petróleo leve. E este fato, a meu ver, deverá obrigar a Petrobras a aumentar o preço da gasolina e do diesel nos postos, o que naturalmente irá refletir no aumento do transporte que, por sua vez, irá influir no preço dos alimentos e outras mercadorias; do mesmo modo que irá refletir no aumento da conta de luz, em face do consumo das termoelétricas a diesel que são acionadas nas horas de pico de energia.
Como se vê, a crise política que está localizada no Oriente Médio pode criar uma crise econômica mundial. Basta o barril de petróleo subir de preço. E quanto ao petróleo do Pré-Sal, a perspectiva de sua exploração é lá para 2015. E agora? Será que com tudo isso ainda terá alguém que seja contra a hidrelétrica de Belo Monte, mesmo que ela represente uma economia de mais de 30 milhões de barris de petróleo/ano?



Publicado em O LIBERAL de 16/03/2011, 1º caderno, pág. 02

- Nicias Ribeiro
- Engenheiro eletrônico
- nicias@uol.com.br

sexta-feira, 4 de março de 2011

Viva o bom senso
A manchete de O Liberal de sábado, 19/02/2011, por si só sintetiza uma das notícias mais esperadas pela população da Transamazônica e do Xingu: “Belo Monte começa segunda”. E, logo abaixo, é dada a informação de que o governo decidiu antecipar para segunda-feira (antes de ontem), a assinatura do contrato com as empresas que vão construir Belo Monte, a maior hidrelétrica da Amazônia, cuja potência será 11.233 megawatts e um reservatório de apenas 516km² de área.
Na verdade, Belo Monte não será apenas a maior hidrelétrica da Amazônia, mas, sim, a maior hidrelétrica genuinamente brasileira, uma vez que Itaipu é binacional; bem como será, também, a terceira maior hidrelétrica do mundo, em potência, perdendo apenas para “Três Gargantas” na China e “Itaipu”. Mas, além de todos esses predicados, Belo Monte também é a hidrelétrica mais discutida e mais estudada de toda a história da engenharia. Daí a minha euforia, diante da decisão do governo em antecipar a assinatura dos contratos para o início efetivo das obras de Belo Monte, até porque sei que é o mais belo e o mais perfeito projeto de hidrelétrica do mundo; não porque os nossos engenheiros sejam os melhores, mas porque quem a projetou foi D eus - o Grande Arquiteto do Universo que, ao fazer o nosso planeta, fez o rio Xingu com um fantástico volume d’água, e, na sua Volta Grande, na região de Altamira, estabeleceu uma espetacular queda em sua topografia (93 metros) especialmente para que o homem, que é a sua imagem e semelhança, ali instalasse as turbinas e fizesse o aproveitamento daquele espetacular potencial hidrelétrico, gerando eletricidade, firme e barata, para o bem-estar de toda uma população.
Por isso dou vivas ao bom senso. Aliás, num dos meus artigos anteriores, disse que não aguentava mais aquele lenga-lenga de se discutir impactos ambientais, até porque quem efetivamente conhece deste assunto sabe que os impactos ambientais de Belo Monte são mínimos, se comparados com os de outras hidrelétricas, até de menor porte. E o que deveria ter sido discutido mais aprofundadamente, e não o foi devidamente, são os impactos econômicos da obra que, seguramente, serão sentidos em toda a região, especialmente em Altamira e Vitória do Xingu, apesar dos estudos e levantamentos feitos há mais de 10 anos por um grupo do governo do Estado, Eletronorte e dos municípios da região e que constituiu o chamado Plano de Inserção Regional de Belo Monte, q ue foi absorvido pelo chamado Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu, instituído pelo decreto nº 7.340, de 21 de outubro de 2010, e cujo Comitê Gestor, criado no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, está sendo constituído agora e cujos representantes do Estado já foram indicados pelo governador Simão Jatene.
Mas, as vivas ao bom senso não se prendem, apenas, no que tange decisão de se tocar as obras de Belo Monte, mas, também, pela decisão do governo em regulamentar a legislação ambiental brasileira que, apesar de moderna e bem elaborada, tem sido utilizada para atravancar o crescimento do País, dificultando a execução de obras como  a pavimentação das rodovias Cuiabá-Santarém (BR-163) e Transamazônica (BR-230), que não foram executadas, porque os oito anos do governo Lula foram dedicados à luta pelo licenciamento ambiental dessas obras, com a realização de várias audiências públicas para se discutir o impacto ambiental, que a pavimentação dessas rodovias causariam às respectivas regiões de influênc ia. E assim, só em 2010 é que as tais licenças de instalação, das referidas obras de pavimentação, foram expedidas pelo Ibama. Pode?
Desculpem-me os ambientalistas. Mas isso para mim é um absurdo, até porque, no caso concreto, se tivesse que haver impacto, certamente que ele aconteceu há 40 anos, na época em que essas rodovias foram abertas na década de setenta e não agora, em sua pavimentação. E assim, enquanto se discutia em Brasília os impactos que poderiam advir com a pavimentação dessas rodovias, o povo da Transamazônica e da Cuiabá-Santarém continuaram, como, aliás, continuam, vivendo em meio à poeira no verão e à lama no inverno. Chega! Viva o bom senso. Viva Belo Monte!

Nicias Ribeiro