No artigo intitulado “O poder da Internet”, publicado em O Liberal de 16/02/2011, lembro das mudanças que ocorreram no mundo a partir da eleição do Papa João Paulo II e da ascensão de Mikhail Gorbachev ao comando da antiga União Soviética, que, aliás, culminaram com o fim da própria União Soviética, e, consequentemente, com o fim da guerra fria e do risco de uma guerra nuclear entre os EUA e a URSS. Adiante, no mesmo artigo, lembro que a geração que vivenciou o desenrolar desses acontecimentos, no século passado, jamais poderia imaginar que o povo árabe, ainda, no início da segunda década do século XXI, iria reagir contra os seus próprios governantes e tirá-los do poder, como ocorreu na Tunísia e no Egito, apenas com manifestações populares e nas quais havia a participação, inclusive, de mulheres, sem nenhum líder e cuja mobilização era feita somente por celulares e a internet.
É certo que as grandes democracias do planeta, festejaram esse grito de liberdade e de democracia do povo árabe. Contudo, não podem perder de vista a questão econômica, até porque todas são capitalistas. Daí o porquê de os EUA e a União Européia terem pressionado o ditador do Egito a deixar o poder, o mais depressa possível, exatamente para não perderem o controle do Canal de Suez, que é por onde passam os petroleiros que vão à Europa e EUA. Já no caso da Líbia, a meu ver, a demora do Ocidente e da ONU em criar uma zona de exclusão aérea para proteger o povo líbio, significa, na prática, dar tempo ao ditador Kadafi de controlar a situação em seu país, até porque a Líbia tem uma produção de apenas 1.700.000 barris de petróleo por dia; enquanto a Arábia Saudita é o maior ex portador mundial de petróleo, com uma produção diária de 11 milhões de barris. Daí a preocupação com a proliferação das manifestações populares que possam, de alguma forma, desestabilizar a monarquia saudita.
Por outro lado, o ressurgimento da Rússia pós-soviética como um país importante do G-8, mesmo não sendo muito rica e nem muito democrática, mostra a sua importância no mundo atual, até porque é o segundo maior produtor mundial de petróleo, com uma produção diária de 9,5 milhões de barris, podendo aumentar para 14,5 milhões a partir da exploração do “Mar Cáspio”, cujo potencial é de 5 milhões de barris/dia. Contudo, o uso político desse potencial energético tem gerado muita insegurança no mercado, uma vez que Moscou não hesita em cortar o fornecimento de gás e petróleo para qualquer nação que contrarie seus interesses, como foi o caso do fechamento do oleoduto da Bielorússia e do gás para Ucrânia.
Como se vê, o que efetivamente preocupa o Ocidente é o petróleo, cujo barril ultrapassou os 100 dólares na semana passada. E se a crise continuar e mexer na Arábia Saudita é provável que o barril chegue a 150 dólares. E neste patamar, conforme os analistas, haverá uma crise econômica global com inflação em todas as economias, inclusive no Brasil que importa o petróleo leve, de onde se produz a gasolina e o óleo diesel com mais rentabilidade.
É certo que o Brasil é autosuficiente na produção de petróleo. E isto foi amplamente difundido no governo Lula. Mas o que nunca foi dito à população, é que o petróleo que o Brasil produz em grande quantidade é o chamado petróleo pesado, excelente à produção de asfalto e pouco utilizado à produção de gasolina e óleo diesel. Daí a troca pelo chamado petróleo leve. E este fato, a meu ver, deverá obrigar a Petrobras a aumentar o preço da gasolina e do diesel nos postos, o que naturalmente irá refletir no aumento do transporte que, por sua vez, irá influir no preço dos alimentos e outras mercadorias; do mesmo modo que irá refletir no aumento da conta de luz, em face do consumo das termoelétricas a diesel que são acionadas nas horas de pico de energia.
Como se vê, a crise política que está localizada no Oriente Médio pode criar uma crise econômica mundial. Basta o barril de petróleo subir de preço. E quanto ao petróleo do Pré-Sal, a perspectiva de sua exploração é lá para 2015. E agora? Será que com tudo isso ainda terá alguém que seja contra a hidrelétrica de Belo Monte, mesmo que ela represente uma economia de mais de 30 milhões de barris de petróleo/ano?Publicado em O LIBERAL de 16/03/2011, 1º caderno, pág. 02
- Nicias Ribeiro
- Engenheiro eletrônico
- nicias@uol.com.br
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